encontrou um jeito insosso, pra não ser de carne e osso

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terça-feira, 8 de março de 2011

Thereza

Thereza disse objetivamente que não queria que eu pusesse se quer um pé em sua casa. Foi claramente frígida ao dizer que sou mal educada e que estrago até mesmo as flores do jardim. Mas isso foi apenas uma prévia.
Thereza desconhece as regras básicas de convívio, como tocar a campainha e esperar até que alguém a atenda. Nessa vez ela queria que a conversa fosse somente entre mim e ela. Esperou que minha mãe saísse para uma reunião, pois se ela estivesse em casa é claro que Thereza não se atreveria a me falar aquelas coisas.
Eram 20h e eu estava assistindo uma novela qualquer, pra ser exata eu estava assistindo Rebelde, rs. Ela entrou devagarzinho, pé ante pé e sentou-se no sofá. Não fiz questão de olhar para ela. Não tirei os olhos da televisão, eu via as imagens mas não compreendia mais nada.
Thereza então deu início ao monólogo. Ela falou, falou e falou durante uns 15 minutos. Tive vontade de chorar. Não é que eu me contive, não foi isso. Eu não quis chorar simplesmente por uma dúzia de minutos de insultos vindos de uma pessoa insípida que desconhece qualquer tipo de sentimento. Eu senti desprezo. Na verdade foi isso que senti. Fiquei com mil palavras trancadas na garganta. E pra quê dizê-las? Não disse nada. Não fui ao menos monossilábica. Não lhe disse nada.
Entendi o recado. Não era para ir a sua casa. Não fui.
Ela pensou que eu fosse daquelas que em meia hora teria esquecido tudo. Ah.
Me chamava para pegar as cartas, as contas, as revistas. Eu não olhava.
Teve um dia que ela quis criar caso, foi o ápice da santa paciência. Ela até chorou. Disse que eu não poderia viver com mágoa no coração, que eu não seria nada se vivesse com rancor. Thereza, coitada, estava falando sobre si mesma.